São Paulo : XVI Conferência Estadual da Pessoa Idosa debate direitos, inclusão e políticas públicas
Evento coordenado pelo Conselho Estadual do Idoso reúne representantes de todo o estado para fortalecer a agenda do envelhecimento ativo e digno
A XVI Conferência Estadual da Pessoa Idosa teve início nesta segunda-feira (23), em Águas de Lindoia, reunindo mais de 400 representantes da sociedade civil, gestores públicos e especialistas para debater os desafios e avanços das políticas públicas voltadas às pessoas idosas. O evento é coordenado pelo Conselho Estadual do Idoso de São Paulo (CEI-SP) e representa um importante espaço de participação social no estado para a definição de propostas e diretrizes.
Na abertura, o presidente do CEI-SP, Marcelo Salera Ricci, destacou a relevância do tema ao lembrar que a população idosa de São Paulo já supera a soma populacional de 18 estados brasileiros. “Esta conferência é um chamado à ação: precisamos transformar compromissos em políticas efetivas, capazes de garantir direitos, promover inclusão e construir um futuro em que todas as gerações possam envelhecer com direito e dignidade.”
Já a secretária executiva de Desenvolvimento Social do Estado, Juliana Armede, ressaltou o aumento permanente de R$ 150 milhões realizado pela pasta em 2025 para o cofinanciamento das políticas públicas de assistência social nas cidades. “Estamos falando de um aumento de pelo menos 60% em média para garantir que os municípios tenham autonomia, debatam em seus múltiplos conselhos, compreendam suas demandas e possam fortalecer, ampliar ou criar serviços.
A secretária lembrou ainda “o trabalho essencial” que os conselheiros e delegados realizam para o fortalecimento das políticas públicas. “Os municípios estão elaborando seus planos plurianuais, que definirão as ações a serem realizadas nos próximos quatro anos. Portanto, este é o momento de abordar temas relacionados à pessoa idosa em seus planejamentos. A ausência de planejamento inviabiliza a implementação de políticas públicas, a alocação de recursos e a prevenção”, concluiu.
Em sintonia com essa perspectiva, o palestrante Alexandre Kalache, médico gerontólogo e presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil, ressaltou a importância da participação ativa da sociedade civil nos conselhos e conferências. “Os eventos que considero mais importantes são aqueles que congregam poder público e sociedade civil. Só com esse diálogo genuíno é possível avançar. É prioritário combater o idadismo e respeitar os direitos, porque só se respeita um grupo quando se elimina o preconceito”, afirmou.
Direitos
Durante uma roda de conversa com representantes de diferentes municípios, fica claro que o fortalecimento das políticas públicas é fundamental para assegurar direitos e combater desigualdades.
Gestor da Casa do Vovô de Ribeirão Preto, José Alexsandro Rodrigues destacou a necessidade de ampliar recursos para as políticas voltadas às pessoas idosas. “Sem planejamento e sem recursos não existe política pública. Queremos que a alíquota do Imposto de Renda destinada às causas da pessoa idosa aumente, assim como aconteceu com o esporte. Isso garantiria mais financiamento e, consequentemente, políticas mais efetivas”, explicou.
A arquiteta e conselheira Norma Rangel, do Conselho Municipal de Direitos da Pessoa Idosa de São Paulo, reforçou a relevância dos fóruns regionais. “Nós somos a primeira geração a envelhecer de fato e precisamos abrir caminhos para as próximas. A moradia, a participação social e a dignidade devem estar no centro das políticas. Conferências como esta são oportunidades únicas para defender aquilo em que acreditamos e transformar realidades”, declarou.
A gestora pública Taiane Miyaque, coordenadora de Políticas para a Diversidade em Santos, trouxe ao debate a urgência de incluir a população idosa LGBTQIAP+ nas políticas públicas. “Nós sofremos preconceito pela idade e também pela identidade de gênero ou orientação sexual. Minha presença aqui é para quebrar paradigmas e dar visibilidade. É preciso garantir direitos e dignidade para a população LGBT+ idosa”, destacou.
Também de Ribeirão Preto, a covereadora Silvia Diogo, militante dos movimentos de mulheres e do movimento negro, lembrou que envelhecer deve ser mais do que “ficar velho”. “Trabalhamos a vida toda, mas muitas vezes chegamos à velhice sem qualidade de vida. Queremos poder viajar, cuidar dos netos, ter saúde física e psicológica. É por isso que conferências são importantes: para pressionar e garantir que políticas públicas saiam do papel”, disse.
Já Renato Sozzi, do Conselho de Direitos da Pessoa Idosa de Atibaia, chamou atenção para a realidade das casas de longa permanência e para a ausência de regulamentação adequada do trabalho dos cuidadores. “Ainda tratamos idosos em instituições como se fossem invisíveis. Precisamos de políticas efetivas, de fiscalização e de valorização da mão de obra que cuida dessas pessoas. Sem isso, continuaremos com depósitos humanos em vez de espaços de cuidado”, alertou.