Nascer, crescer e envelhecer faz parte da vida. O importante é como você envelhece
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Por Drª Beatriz Maria Trezza, Geriatra do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Segunda-feira, 15/11/2021 | |
O envelhecimento representa a consequência ou
os efeitos da passagem do tempo. O processo natural de envelhecimento, que é
lento e gradual, é conhecido como senescência. O envelhecimento fisiológico é
inexorável, dinâmico e irreversível, caracterizando-se pela maior
vulnerabilidade às agressões do meio interno e externo e maior susceptibilidade
a doenças, não significando, entretanto, adoecer. Já a presença de doenças
relacionadas à idade é conhecida como senilidade.
Em algumas situações, os limites entre senescência
e senilidade não são tão claros. Um exemplo é o aumento da pressão arterial
sistólica (a máxima) que ocorre com o envelhecimento. Mais da metade das
pessoas acima de 60 anos tem pressão arterial acima dos níveis considerados
normais ou saudáveis. No entanto, apesar de ser muito comum, a hipertensão
arterial deve ser considerada doença e tratada com igual rigor em adultos
jovens e adultos idosos, com raras exceções.
Envelhecimento não é doença
Na geriatria, dois grandes erros devem ser
continuamente evitados. O primeiro é considerar que todas as alterações que
ocorrem com a pessoa idosa são decorrentes de seu envelhecimento natural, o que
pode impedir a detecção precoce e o tratamento de certas doenças. O segundo é
tratar o envelhecimento natural como doença a partir da realização de exames e
tratamentos desnecessários, originários de sinais e sintomas que podem ser
facilmente explicados pela senescência (ou envelhecimento normal).
Outra implicação destas mudanças é que, não
raramente, a manifestação de doenças pode ser bastante diferente num adulto
jovem e num adulto idoso. Por exemplo, uma pessoa de 90 anos pode ter uma
pneumonia sem ter febre, mas ficar repentinamente confusa, dizendo coisas sem
sentido.
O envelhecimento não evolui da mesma forma
para todos
Apesar de o envelhecimento ser um evento
universal, ele não evolui da mesma forma nos diferentes indivíduos, de modo que
a população idosa pode ser bem heterogênea, isto é, pessoas com uma mesma idade
podem estar em condições gerais de saúde muito diferentes.
Todos nós conhecemos pessoas bem idosas, com mais
de 90 anos. Ao pensar nelas, podemos identificar algumas que estão lúcidas –
conseguindo caminhar sem dificuldade e levando uma vida independente–, já,
outras, restritas à cama ou cadeira de rodas. Assim, o geriatra tem que ter
conhecimento e discernimento para saber que as condutas diagnósticas (exames) e
terapêuticas (tratamentos) podem ser muito diferentes, mesmo quando a doença a
ser abordada é a mesma.