Tabu e culpa sobre colocar idosos em asilos

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MG - Paracatu


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“A gente não tinha mais saída, porque minha mãe precisava cada vez mais de cuidados o tempo todo e não aceitava esses cuidados de ninguém que não fosse eu”, diz Ana.

População brasileira tem envelhecido cada vez mais ao longo dos anos e especialistas cobram medidas do poder público sobre o tema

O preconceito com 'asilos'

A princípio, Ana resistiu à possibilidade de deixar a mãe em uma instituição, porque pensava que isso poderia ser ruim para a matriarca e ser encarado como um abandono.

"Mas por mais que eu quisesse muito, não conseguiria dar os cuidados necessários para ela ficar bem.”

Quando decidiu colocar a mãe em uma instituição, Ana enfrentou as críticas de amigas de Enila.

“Elas não aceitaram e ficaram me mandando vídeos sobre abandono de idosos, falaram que isso era um absurdo”, conta.

“Cresci com essas amigas da minha mãe em casa, sempre as respeitei muito. Por isso, quando me mandaram essas coisas, só fiquei quieta.”

O preconceito e a visão negativa sobre esse tipo de instituição são bastante comuns, dizem especialistas em saúde de idosos.

Mas esses profissionais frisam que esses lugares representam formas de um idoso receber atenção adequada e de maneira profissional.

Falar sobre esses "asilos" ainda é um tabu. Nas redes sociais existem inúmeros relatos de brigas familiares em que um parente quer colocar um idoso que precisa de cuidados em uma dessas instituições, enquanto outros discordam por achar que é uma forma de abandono.

A geriatra Celene Pinheiro, presidente da Associação Brasileira de Alzheimer e Outras Demências, regional de São Paulo (ABRAz-SP), diz que o preconceito com esse tipo de instituição persiste, embora possam ser fundamentais para muitas famílias.

“Muitas pessoas têm uma visão antiga, como se fosse um local apenas para pessoas com vulnerabilidade que foram abandonadas. Mas essa não é a realidade”, afirma a médica.

“Muitos não imaginam, mas as relações entre os familiares, muitas vezes, se transformam positivamente, porque o familiar não vai mais ficar sobrecarregado com os cuidados com o idoso.”

Um quarto dos familiares (25,8%) que precisam se tornar cuidadores deixam de trabalhar ou estudar para se dedicar em tempo integral ao idoso, segundo o estudo da ELSI-Brasil.

Os especialistas pontuam que as instituições para idosos têm sido cada vez mais necessárias por conta das mudanças nas características das famílias.

Entre as principais, estão a inserção da mulher no mercado de trabalho; o envelhecimento da população; a queda da natalidade no país nos últimos anos e a consequente redução do tamanho das famílias.

“Além disso, muitas vezes, cada filho vive em cidades ou até países diferentes", diz Pinheiro.

A geriatra Celene Pinheiro defende que as instituições para idosos são uma forma de cuidado e não podem ser classificadas como forma de abandono

Mas apenas cerca de um quarto dos idosos que demandam maior atenção vivem em instituições, de acordo com levantamentos feitos por pesquisadores sobre o tema, aponta Naira Dutra Lemos, presidente do Departamento de Gerontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).

“Muita gente acha que o idoso vai perder laço com a família, o que não é verdade”, acrescenta Lemos.

"Pode acontecer de colocarem o idoso em uma instituição e não ter mais contato, claro, mas não é só isso que ocorre."

Falta de informações

Sem dados oficiais sobre as instituições para idosos ou quantas pessoas vivem nelas, pesquisadores brasileiros costumam fazer levantamentos por conta própria.

A reportagem procurou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que disse que não possui essas informações.

No governo federal, o único dado que consta é originado de municípios que encaminham voluntariamente à Anvisa informações sobre cadastros e inspeções nessas instituições.

Mas são poucas as defesas civis municipais que passam esses números à agência. Em razão disso, a Anvisa reconhece que não há um dado oficial sobre o total de instituições desse tipo no país.

Em nota à reportagem, a Anvisa aponta que os municípios não são obrigados a enviar os números desse tipo de inspeção.