Prioridade é cuidar da diversidade da população, disse a ministra
A professora
e assistente social Macaé Evaristo tomou posse, nesta sexta-feira (27), como a
nova ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania. Macaé afirmou que a
prioridade da pasta é cuidar da diversidade da população brasileira e criar
políticas que estimulem a convivência, a solidariedade e, acima de tudo, o
cuidado mútuo e comunitário.
“O
Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania está de pé, está vivo, temos
tarefas concretas e muita coisa por fazer”, disse Macaé, em cerimônia no
Palácio do Planalto ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para ela,
o termo “direitos humanos” só tem sentido se for materializado na vida
cotidiana das pessoas comuns.
Ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, discursa em cerimônia no
Palácio do Planalto - Antônio Cruz/Agência Brasil
“Tem uma
palavra, presidente Lula, que vem da filosofia africana: ubuntu,
que significa humanidade para todos. O termo, ao mesmo tempo que reafirma a
beleza de cada um ser o que se é, chama a atenção para o entendimento de que só
alcançamos a plenitude como indivíduos na coletividade, ‘eu sou porque nós
somos’. E esta talvez seja maior vocação do Ministério dos Direitos Humanos e
da Cidadania: humanidade para todos, direito à vida, à liberdade, à educação, à
saúde e ao trabalho, direito à memória e à verdade”, disse Macaé.
“A minha
maior credencial é ser uma pessoa absolutamente comum”, destacou, falando sobre
sua trajetória de vida, de mulher preta do interior de Minas Gerais, criada
apenas pela mãe, após a morte precoce do pai, e que teve a oportunidade de
estudar.
“Infelizmente,
na nossa sociedade brasileira, muita gente tem uma concepção de que direitos
humanos é uma coisa de quem defende bandido. E é o desafio fundamental para a
gente construir a ação desse ministério porque a gente precisa entender a
tensão entre afirmação e negação dos direitos humanos”, acrescentou a nova
ministra.
“No cenário
global, a gente enfrenta uma nova investida do capita, que aposta na segregação
social, racial e ambiental para legitimar a opressão e o extermínio de milhões
de pessoas comuns, como eu, que diante do horror da fome, da peste, da guerra
não sabem a quem recorrer. É por isso que a nossa tarefa é dialogar e disputar
o próprio sentido dos direitos humanos”, explicou.
Diversidade
Nomeada em
11 de setembro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Macaé já está à frente das funções da pasta, de combate a
todas as formas de violência e preconceito e articulação de políticas públicas
e promoção dos direitos humanos. Logo após o ato, a nova ministra se reuniu com
os secretários para estabelecer as urgências da pasta.
“O
Ministério dos Direitos Humanos é dedicado a cuidar especialmente das pessoas
mais vulneráveis do mundo social e estimular a convivência da diversidade,
implementar um plano de ação que tenha como premissa a valorização das
potências das populações das periferias, favelas, comunidades urbanas e do
campo, que pavimentam os caminhos de um futuro de um Brasil sem fome, sem
miséria, sem racismo, sem machismo, sem capacitismo, sem lgbtqia+fobia, sem
etarismo, porque nós precisamos cuidar dos idosos”, disse a ministra.
Cerimônia
de posse da Ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, no
Palácio do Planalto - Antônio Cruz/Agência Brasil
Durante a
cerimônia, a escritora Conceição Evaristo, que é prima de Macaé, leu dois de
seus poemas: Vozes Mulheres e No Meio do Caminho,
Deslizantes Águas. Conceição é uma das maiores representantes negras da
literatura brasileira, membro da Academia Mineira de Letras.
A nova
ministra é deputada estadual da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e
aceitou o convite de Lula para substituir o ex-ministro Silvio Almeida, exonerado do cargo no início do mês após
denúncias de assédio sexual. O Supremo Tribunal Federal (STF) e a Comissão de
Ética Pública da Presidência da República abriram procedimentos para apurar o
caso. Almeida nega as acusações.
Entre as
vítimas do ex-ministro estaria a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco,
apontada como alvo de importunação sexual. Anielle estava hoje no palanque da
posse de Macaé, ao lado do presidente, de outras ministras mulheres do governo
Lula e da primeira-dama, Janja Lula da Silva.
Currículo
Nascida em
São Gonçalo do Pará, Minas Gerais, em abril de 1965, Macaé tem trajetória na
educação, na luta antirracista e na defesa dos direitos humanos. Graduada em
serviço social pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, é mestre
e doutoranda em educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Macaé
exerceu mandatos como vereadora e deputada estadual e foi a primeira mulher
negra a ocupar os cargos de secretária de Educação de Belo Horizonte (2005 a
2012) e de Minas Gerais (2015 a 2018).
No Executivo
federal, foi secretária de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e
Inclusão do Ministério da Educação (MEC) no governo de Dilma Rousseff, quando
coordenou programas como Escolas Indígenas e de cotas para ingresso de
estudantes de escola pública, negros e indígenas no ensino superior. Integrou a
equipe de transição do governo Lula, em 2022, no grupo de trabalho da educação.